Eu tinha uma grande fraqueza: me incomodava profundamente motoristas que não respeitam o próximo, que desobedecem as leis simples, que não usam a seta, que cortam outros carros e tentam ter vantagens no trânsito.
Assim como também quem acha que você deva sempre correr acima da velocidade permitida, forçando a passagem ou te pressionando.
Era uma fraqueza porque eu chegava a perder a linha, ficava nervoso e até mesmo xingava esses motoristas.
Pois bem, eu aprendi mais uma lição esses dias.
Ao voltar para casa depois de um dia longo na escola, eu estava transitando em uma avenida em que a velocidade máxima permitida era de 50 quilômetros por hora.
E assim eu estava a exatamente 50 quilômetros, porém atrás do meu carro se aproximou um ônibus em alta velocidade, e começou a exigir que eu desse passagem à ele, com sinais de farol e buzina.
Eu fiquei extremamente nervoso, principalmente por ser uma via estreita, com carros parados e com faixa intermitente, ou seja, onde é proibida a ultrapassagem.
Então xinguei muito esse motorista.
E não me senti bem.
Cheguei em casa bem chateado, naquele dia.
Eu sei que quem tenta levar vantagens em coisas pequenas, com certeza tentará levar vantagens em coisas grandes. Eu sei que essas pessoas ainda se dizem boas pessoas, que vão sempre à igreja, que ajudam ao próximo e que são excelentes pais de família.
Eu sei também que essas pessoas dizem abominar políticos corruptos, chegam a maldizer partidos ladrões, e acreditam que ladrões devem perder uma mão e assassinos devem perder suas vidas.
Se esquecendo que seu veículo também é uma arma, e seus pequenos crimes também podem prejudicam outras pessoas, assim como um roubo ou um assassinato.
Mas fui surpreendido com uma lição:
Eu não sou o juiz pessoal desses motoristas, assim como não sou o acusador ou a consciência deles.
Como dizia minha linda avó Alice: "cada um anda com as suas próprias pernas."
Eu gostaria muito de mudar o pensamento do ser humano, de abrir os seus olhos para enxergar através desse véu que nos cega, para entender qual o seu propósito aqui nesse planeta.
Porém essa não é a minha carga, esse não é o meu propósito.
Eu, a partir de então, não briguei mais com os motoristas super velozes e egoístas que encontrei pelo caminho.
Eu apenas dei passagem, e senti piedade deles.
Passei a pedir para o meu protetor, todas as manhãs, que me ajudasse a levar paz ao trânsito, que me usasse como um portador de Amor e de paz, e que eu não tivesse mais aquele sentimento de injustiça que me fazia tão mal, e ao próximo também.
E todos os dias, no meu caminho de ida e de volta, me encontro com esses motoristas.
Mas hoje eu sou diferente.
É engraçado como percebemos que não temos razão em muitas coisas, mas teimamos durante muito tempo em fazê-las, não é mesmo?
E esta é a grande conquista do ser humano: o momento em que ele muda, em que ele admite que estava errado e passa a ser um ser melhor do que foi ontem.
E tenho certeza de que amanhã eu descobrirei algo em mim que estava errado, e que deverei mudar.
Este é o momento da mudança, da decisão.
Quem escolher o caminho correto, quem enxergar a realidade e quem se desligar de suas verdades absolutas terá uma longa caminhada pela frente, enfrentará muitas acusações e preconceitos.
Porém aquele que insistir em viver no seu erro, nas suas verdades absolutas, nas suas razões infantis, poderá se convencer do sucesso, da plenitude, da felicidade e ganhará elogios dos religiosos.
Mas quem se sentirá melhor, no final?